Memórias de Infância
Lembro-me
tão bem de tudo como se fosse hoje e já passaram quase nove anos. Foi em
dezembro de 2004 que tudo se passou, tinha eu quatro anos de idade. Era uma
criança frágil, tímida, divertida e adorava ajudar o próximo.
Nesta
fase da minha vida, as duas pessoas mais importantes para mim, a seguir aos
meus pais, eram os meus avós maternos. Foram os meus avós que me criaram e me ensinaram
o quão difícil era viver num mundo onde nem tudo eram sonhos cor-de-rosa e onde
se tinham de enfrentar longas batalhas para conseguir sobreviver. O meu grande herói
até aos quatro anos foi o meu avô.
Lembro-me
das brincadeiras que ele tinha comigo, dos jogos de futebol no quintal, dos
jogos de memória, de me ensinar como fazer rodar um pião na palma da mão e dos
serões passados junto da lareira, onde ele me contava histórias e eu acabava
quase sempre por adormecer. Lembro-me também do olhar azul claro dele e do seu
pequeno sinal no queixo que eu dizia que era uma verruga e que o meu avô achava
muita piada. Todos os beijos e abraços que ele me deu estão guardados na minha
memória.
A
certa altura, o meu avô deixou de ter todas estas brincadeiras comigo e eu não
percebia porque é que, de um momento para o outro, tudo tinha mudado. Foi então
que a minha avó e os meus pais foram falar comigo e me deram a triste notícia
de que o meu herói tinha pouco tempo de vida, pois tinha-lhe sido diagnosticado
um cancro.
Na
noite de sete de dezembro, ele disse-me: “Nunca te esqueças de tudo o que
aprendeste e continuarás a aprender na vida. A vida é longa, mas por vezes sabe
ser traiçoeira, por isso vive o hoje como se não houvesse amanhã. Dia a dia os
teus sonhos irão realizar-se” e deu-me um beijo cheio de ternura. No dia
seguinte, passei todo o meu tempo junto dele e foi nessa noite que ele nos
deixou.
Há
um ano atrás, recebi uma santinha com um bilhete que a minha mãe tinha guardado
a pedido do meu avô. Todos os dias de manhã, olho para a santinha e relembro
tudo o que passei.
Sei
que nos dias de hoje, mesmo não estando entre nós, o meu avô me dá forças e
está presente na minha vida e guardado no meu coração. Não vi a partida do meu grande
herói como um “adeus”, mas sim como um “até já”, pois sei que nunca sairá da
minha memória um homem tão corajoso e bondoso como ele.
Agora
resta-me continuar a viver um dia de cada vez e conservar o que de mais
importante existe na minha vida.
“Lembrar
é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem coração!”
Érica Gomes, nº7, 8º D
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