quarta-feira, 25 de março de 2020

24 de março, Dia Nacional do Estudante

No passado dia 24 de março, terça-feira, assinalou-se o Dia Nacional do Estudante. A data tem especial relevância num momento de grandes desafios para a Escola. Este dia comemora-se num dos períodos mais difíceis da nossa democracia. Exigem-se respostas imediatas aos governantes, aos Diretores de Agrupamento mas, também, responsabilidade acrescida aos nossos alunos. O balanço ficará para mais tarde. Agora é o momento de todos agirem em função do bem comum. O presente é o importante, o futuro será consequência deste.

Fez ontem 58 anos que milhares de estudantes se revoltaram pela autonomia da universidade. A história é, no essencial, conhecida. Estudantes, professores mas também do reitor da Universidade de Lisboa, Marcelo Caetano, solidarizaram-se com essa luta. A polícia de choque cercou a cidade universitária logo às primeiras horas da manhã de 24 de Março de 1962. Os dirigentes associativos dos estudantes tinham enviado 20 dias antes, ao ministro da Educação, Lopes de Almeida, um pedido de autorização para as celebrações com que pretendiam assinalar a data: colóquios, atividades desportivas e culturais.
Apesar de nenhuma resposta ter sido dada aos três convites para que estivesse presente, era convicção generalizada que o ministro não iria impedir a realização do ato, no qual estava prevista também a presença de estudantes de Coimbra e do Porto. De resto, e contrariando boatos que corriam, o reitor garantira, no dia anterior, aos dirigentes da RIA (Reunião Inter Associações), que o Dia do Estudante se iria realizar.
Nem os protestos de Caetano - figura de topo do Estado Novo e que era na altura ainda visto como o delfim de Salazar - conseguiram suster a fúria do regime: apesar de promessas do ministro da Educação, por duas vezes, naquele dia, a polícia carregará com violência sobre os estudantes.
Mentiras ministeriais, agressões brutais da polícia, humilhação infligida ao reitor, que mantinha relações cordiais com os dirigentes associativos - está constituído o caldo de cultura explosivo que vai batizar politicamente milhares de jovens estudantes portugueses.
Nos três meses de agitação que se seguem e nas ondas de choque que se repercutem pelas vidas de muitos deles - 150 perdem o ano, muitas centenas são presos, vários torturados, 43 expulsos do sistema de ensino, numerosos chamados à tropa - forja-se uma nova geração que prepara o fim do Estado Novo.
A mesma que, uma década e meia depois, há de ocupar alguns dos lugares cimeiros do regime democrático.
Jorge Miranda, ilustre constitucionalista, tinha 20 anos. Simples estudante de Direito, como se define, não exercia qualquer cargo no movimento associativo de então. Não foi preso, nem expulso da universidade. Vai descrever os acontecimentos da seguinte forma:” Domingo, 25 de Março de 1962 (...) No fim da aula, notei que havia grande movimentação pelos corredores da Faculdade, com os dirigentes da Associação Académica a dizer que a cantina estava fechada e que o Dia do Estudante ia ser ou tinha sido proibido.
(...) Talvez há 1 hora e meia ou 2 horas, a força da polícia veio para a frente de Letras e o comandante mandou-nos dispersar. Ninguém, contudo, obedeceu e o ambiente tornou-se pesado. Foi então que surgiu um professor (que vim a saber ser Luís Lindley Cintra) que se dirigiu a nós, aconselhando calma, e que foi falar com o comandante do destacamento. Entretanto, circulava a notícia de que o reitor, Marcello Caetano, não tinha sido informado da decisão do Governo e que estava bastante descontente.
(...) No estádio, havia a atividade normal de sábado, com jogos e provas de atletismo. (...) O tempo ia correndo e eu começava a ter fome, porque não tinha almoçado.
Mas cerca das 6 horas (ou um pouco mais tarde) soubemos que a polícia, a polícia de choque, se dirigia para o estádio e alguma inquietação veio de novo. Nós não éramos muitos. Tenho dificuldade em calcular, talvez entre 500 e 1000 pessoas. Espontaneamente, sentámo-nos no chão e esperámos.
Os polícias avançaram e nós levantámo-nos e cantámos o hino nacional, com revolta. Alguns de nós gritámos: "Assassinos! Assassinos!"
(…) Fui ao Saldanha tomar um autocarro, mas acabei por ir de táxi para o Lumiar. Na Alameda das Linhas de Torres, tivemos de parar, porque havia muita gente na rua. Eram grupos de estudantes que vinham para trás (…). A polícia tinha barrado a passagem e carregado sobre os manifestantes
TEMAS-Crise de 62 contada pelos que a dirigiram, in Público, 24 de Março de 2007 (adaptado)

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