terça-feira, 24 de março de 2020

"Ligeira, inaudível e passageira" - Um poema de Bernardo Correia




A brisa ligeira alivia
Qualquer promessa.
Besta quadrada ou esférica,
Ignorante ou estéril,
Eu as sou todas e delas serei. Fértil.

A brisa inaudível corta
O silêncio que nos grita
E forma o fôlego.
Folgo do luto audaz
E mordaz que lhe silencia. Morto, e mofo.

A brisa passageira não
Tem ponta e ponto
Por onde se pegue.
Tentativa a que lhe segue,
E ainda tateiam o cérebro. Que me precede.

Ligeira ou inaudível,
Passageira ou verosímil,
A brisa alivia qualquer promessa;
Eterna ou perene. Sem medo ou inerte.
Afinal, eu as sou todas e delas serei.

Espero-te, assim, no Céu que nos aguarda.
Mas se, porventura, a brisa se fizer
Tormenta ou mar que nos cala,

Lembra-me da brisa que se
Avista e em si te cria como
A brisa e insígnia que és:

Ligeira, inaudível e passageira.

Bernardo Correia

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